AUTOTRANSFUSÃO EM FELINO COM RUPTURAS DIAFRAGMÁTICA E ESPLÊNICA

  • Autor
  • Anna Vitória de Almeida da Silva
  • Co-autores
  • Eduarda Caran Pagassini , Adriana Lopes de Freitas , Roberta Carareto
  • Resumo
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    A ruptura diafragmática de origem traumática é uma condição emergencial que ocorre quando há descontinuidade no músculo diafragma, possibilitando a passagem de estruturas abdominais para o interior do tórax. Essa alteração na anatomia normal compromete a expansão pulmonar e pode evoluir rapidamente para um quadro de insuficiência respiratória. Quando associada à ruptura esplênica, o quadro se agrava devido à perda sanguínea significativa, resultando em choque hipovolêmico severo. Nesses casos, a autotransfusão —  de sangue coletado da cavidade corporal no próprio paciente — surge como alternativa viável à transfusão alogênica, especialmente em emergências onde não há hemoderivados disponíveis. O presente trabalho tem como objetivo relatar o caso de uma felina politraumatizada submetida à esplenectomia e correção de ruptura diafragmática, cuja sobrevida foi possibilitada por meio de autotransfusão. Atendeu-se no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná uma felina, sem raça definida, com histórico de prostração, anorexia, hipotermia (33,5°C), dispneia e pressão arterial de 60 mmHg, com histórico de desaparecimento por dois dias. A ultrassonografia torácica (T-FAST) evidenciou efusão pleural bilateral, mais volumosa no hemitórax direito cranial, com hematócrito de 38%, enquanto o hematócrito sanguíneo periférico era de apenas 14%, caracterizando hemotórax ativo. A paciente foi encaminhada ao centro cirúrgico para celiotomia exploratória. Confirmou-se ruptura diafragmática associada à migração de fígado e baço para a cavidade torácica, além de ruptura esplênica com evidência de sangramento ativo Procedeu-se à esplenectomia com ligadura dos vasos do hilo com fio poliglactina 3-0, e o sangue livre na cavidade toracoabdominal, sem sinais de contaminação, foi coletado estéril e reinfundido via acesso venoso em autotransfusão. Após reposicionamento dos órgãos, realizou-se a correção do diafragma com sutura simples separada, com fio inabsorvível (nylon) 2-0, e fixação de dreno torácico. Realizou-se a síntese da parede abdominal com sutura contínua simples da musculatura utilizando fio de poliglactina 910 3-0. A seguir, foi realizada a sutura do subcutâneo em padrão contínuo tipo Cushing com o mesmo fio, finalizando-se com a dermorrafia em pontos simples separados com fio de nylon monofilamentar 3-0. Optou-se por não desfazer a atelectasia, pois esta conduta pode predispor a incidência de edema pulmonar por reexpansão. O manejo conservador, com aspiração gradativa e monitoramento respiratório rigoroso, contribuiu significativamente para a estabilidade clínica da paciente. Alguns dias após a cirurgia de correção da ruptura diafragmática e esplenectomia, observou-se a presença de eventração na região inguinal esquerda, também atribuída ao trauma inicial. Diante do achado, a paciente foi submetida a novo procedimento cirúrgico para contenção da parede abdominal. A recuperação pós-operatória de ambas as intervenções transcorreu de forma satisfatória, com evolução clínica positiva. Conclui-se que, em casos de trauma toracoabdominal grave, a intervenção cirúrgica precoce aliada à autotransfusão e ao manejo individualizado, incluindo a identificação e correção de lesões secundárias, pode ser determinante para a sobrevida e recuperação do paciente, destacando a importância de uma abordagem multidisciplinar em animais politraumatizados.

  • Palavras-chave
  • autotransfusão, esplenectomia, eventração.
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